SENHOR BOM JESUS

Origem da devoção ao Senhor Bom Jesus

A devoção ao Bom Jesus ocupou uma posição de relevo na piedade popular ao longo do período colonial. Suas origens remontam à Idade Média, época na qual a Igreja se identificava com a própria sociedade católica sob o modelo de Cristandade. Essa concepção eclesial chegou ao Brasil inserida no próprio projeto colonizador. Como devotos do Senhor Bom Jesus – afirma Riolando Azzi, professor de Filosofa da Universidade Federal do Rio de Janeiro – os colonos portugueses preocupavam-se em assegurar sua proteção contra as adversidades do viver numa terra estranha: imprevistos nas viagens, inclemências do clima, ataques de animais ferozes, doenças, pestes e muitos outros perigos.

A devoção podia também ser incrementada por meio de confrarias e irmandades, nas quais seus membros se encarregavam da construção da capela ou ermida, dos cuidados da manutenção e dos recursos para garantir o maior brilho de suas festas. Muitos desses locais de devoção, tanto em Portugal quanto no Brasil, tornaram-se célebres e se transformaram com o tempo em destino de peregrinações e romarias. O professor Azzi explica que a devoção ao Bom Jesus, dentro da perspectiva popular, é centrada no mistério da Paixão e Morte de Cristo, particularmente por meio da representação vivenciada do próprio drama do Calvário. (…)

Devoção em Portugal

Em Portugal, fonte da devoção no Brasil, a Igreja do Bom Jesus de Matosinhos é um dos mais conhecidos lugares de peregrinação, romaria e festas desde o século 17. (…)

A origem da devoção está envolta em lendas. Uma delas conta que a imagem do Bom Jesus foi encontrada em 1243 no local chamado de Espinheiro, praia de Matosinhos. Nesse mesmo ano teria sido abrigada no Mosteiro de Bouças e ali permaneceu até 1559, época em que a imagem foi conduzida ao Santuário construído para abrigá-la. Diz a tradição que se tratava de uma das cinco imagens esculpidas por Nicodemos, testemunha privilegiada dos últimos momentos da vida de Cristo. (…)

Segundo a lenda, Nicodemos teria guardado o Santo Sudário, o mais famoso retalho de tecido da História, aquele no qual ficou reproduzido o rosto ensanguentado de Cristo.

Profundamente impressionado com os acontecimentos de que fora testemunha, e sendo dotado para a escultura em madeira, resolveu esculpir diversas imagens de Cristo crucificado, nas quais reproduz as feições de Jesus. Para resguardar as imagens esculpidas por ele e evitar a profanação por parte dos inimigos do cristianismo, Nicodemos as lançou ao Mar Mediterrâneo. As imagens vagaram ao sabor das águas algum tempo e depois aportaram na Síria (Berio), Itália (Luca), Espanha (Buros), Galiza (Orense) e Portugal (Matosinhos). (…)

Bom Jesus de Matosinhos

No Brasil, essa influência chegou a Congonhas do Campo (MG), e recebeu o nome de Bom Jesus de Matosinhos. O português Feliciano Mendes, devoto do Senhor Bom Jesus de Matosinhos, nascido na cidade de Guimarães, a 25 quilômetros de Braga, logo que chegou nas Minas Gerais dedicou-se à construção de um templo para sua devoção. Assim começou na Colônia a devoção ao Bom Jesus de Matosinhos.

Durante o período colonial, a romaria ao Santuário do Bom Jesus de Matosinhos era a mais popular no Brasil. Atualmente, as romarias e festas ganharam outros contornos, mas os traços tipicamente populares iniciados pelos peregrinos ainda persistem, como a flagelação, passando pelas capelas, rezas, músicas ou as esmolas, comprovando assim a permanência da devoção ao Bom Jesus de Matosinhos.

O complexo arquitetônico de Congonhas do Campo é composto de seis capelas, que representam sete passos da Via-crúcis, uma escadaria no modelo setecentista, o adro no qual estão localizados os Doze Profetas (conjunto de esculturas do Aleijadinho), o Templo, e a casa dos ex-votos. (…) (Encaminhado por Pe. Luiz Carlos de Oliveira – editado).

As diferentes invocações do Bom Jesus

Senhor Bom Jesus “É preciso que diante dos olhos da nossa alma se apresente Cristo – o Cristo do Getsêmani, o Cristo flagelado, coroado de espinhos, carregando a cruz e enfim crucificado” (João Paulo II, 12/03/2000).

Existem diferentes invocações e representações do “Senhor Bom Jesus”, nas 202 paróquias a Ele dedicadas no Brasil. Em Portugal o título aplica-se normalmente à imagem de Jesus Crucificado. Em nosso país, diversas igrejas mantêm essa representação, como a Paróquia do Senhor Bom Jesus de Vieiras, Santuário de Bom Jesus da Lapa BA, a Basílica do Bom Jesus de Matosinhos, em Congonhas MG (onde, porém, a imagem do Bom Jesus corresponde àquela que conhecemos como “Senhor Morto”) e grande número de Paróquias em todo país.

Os Santuários históricos do estado de São Paulo (Iguape, Tremembé, Bom Jesus dos Perdões e Pirapora do Bom Jesus) e as igrejas que deles derivam, representam o Bom Jesus na cena em que Pilatos o apresentou ao povo: “Eis o homem!” (Jo 19, 5), flagelado, coroado de espinhos e coberto com o manto púrpura. Existem, porém, outras representações, normalmente relacionadas aos sofrimentos e à Paixão do Senhor, como o Bom Jesus da Coluna (atado à coluna da flagelação), o Bom Jesus da Pedra fria (ou da Paciência), sentado. Muito conhecida é a imagem do Bom Jesus dos Passos, levando a cruz. Há também as imagens do Bom Jesus do Horto, do Bom Jesus dos Aflitos (ou dos Pobres Aflitos), do Bom Jesus da Boa Morte, etc.